sexta-feira, 20 de junho de 2014

Under the influence


Estamos a entrar na época de saldos e porque o meu cérebro associa sempre a palavra SALDOS à palavra ZARA e ao verbo COMPRAR decidi abordar um tema que despelota muita controvérsia entre as fashionistas - o plágio no grupo INDITEX. Como devem saber a INDITEX é um dos maiores grupos de distribuição do mundo de vestuário, acessórios e até artigos de decoração de interiores, é responsável pelas marcas Zara, Pull&Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho e Zara Home. Ora, já faz parte do conhecimento geral que este grupo é contantemente atacado por diversos designers de marcas de luxo que o acusam de plagiar as suas peças, tomando conhecimento avançadamente das suas colecções através de verdadeiros "espiões" que se infiltram nos desfiles ou showrooms destas marcas e tomam nota das tendências, detalhes de peças etc e depois transmitem essa informação aos departamentos de design destas marcas que numa questão de dias reproduzem as peças e colocam-nas nas lojas. Por incrível que pareça muitos dos nomes sonantes do mundo da moda não têm a capacidade produtiva de uma marca como a Zara, é este aspecto que marca a diferença. O sistema de produção da Zara tem um modelo sofisticadíssimo que permite saber ao minuto as vendas de cada uma das lojas da marca em qualquer ponto do mundo, permite desenvolver uma ideia, produzir protótipos, testar a peça numa ou outra loja, fabricar as peças finais e expedi-las para as restantes lojas em poucos dias. Não há qualquer hipótese para as outras marcas porque esta eficácia está aliada a estratégias de markting revolucionárias, preços competitivos, departamentos de coolhunters e designers altamente competentes.

Estamos todas under the influence no que toca à Zara, verdade ou não??? Vá admitam. Quem nunca sentiu ligeiras palpitações quando vê a roupa da Zara ser organizada para saldos, ou quando chega a uma loja e lhe dizem que a peça está esgotada em todo o lado e só se fizer 226km até à Zara de Aveiro é que a encontra, quem nunca sentiu isto que atire a primeira pedra ou diriga-se com urgência a um cardiologista porque deve ter um coração de pedra.

A verdade é que para aqueles que estão minimamente atentos às semanas da moda de todo o mundo e ao desenrolar de colecções de grandes marcas apercebem-se das semelhanças extraordinárias entre as peças-chave dessas colecções e as peças que vamos encontrando na Zara, de duas em duas semanas como manda a regra. Não há debate possível, a Zara espia a competição. Mas eu pergunto, será competição? será que a Zara representa algum tipo de competição para estas marcas com públicos-alvo tão diferentes e sectores de mercado tão distantes? Não me parece que o consumidor Zara quando vê um top estampado com um padrão de pinceladas e rapidamente o associa à colecção do verão 2014 da Céline pense: "ah, este top é giro mas prefiro ir ali à loja da Céline e gastar um 3.000€ em vez dos 29.99€ da Zara agora a 19.99€".


Isto não acontece meus amigos, quem compra na Céline, por vezes compra na Zara até, mas quando compra Céline não o faz apenas por amor à roupa, responde ao apelo do valor da Marca. O consumidor sente um apreço diferente pela peça por ser daquela marca, fruto do trabalho daquele designer, feita deste material e comprada nas galeries lafayette em vez do Centro Comercial Colombo. Atenção, ter em conta o factor "marca" numa compra não faz mal a ninguém, só faz mal quando é apenas o único factor ponderado na equação. Financeiramente não posso ver como o sucesso de uma marca que se inspira noutras que se dirigem a outros públicos pode ser prejudicial para estas.

Só posso compreender e atender à frustração dos estilistas que conceberam aquela peça com tanto carinho, inspiraram-se nalgum aspecto das suas vidas, dirigiram-se às necessidades das suas clientes e depois vêm as suas ideias ser reutilizadas (sempre com um matreiro twist) noutras peças, desvirtuando por completo todo o contexto de criação daquele artista. Esta sim é a verdadeira questão mas infelizmente ainda não fomos capazes de desenvolver um regime legal que seja simultaneamente capaz de proteger a ideia e o artista sem se tornar opressor do processo criativo daqueles artistas que lhe sucedem.
Honestamente, tendo em conta a minha formação jurídica até serve para alguma coisa, sei que é praticamente impossivel de traduzir estas duas necessidades num regime legal articulado entre si, em que os preceitos legais não sejam invariavelmente interpretados conforme o interesse do artista plagiado ou o do plagiador, ou seja nem sempre o resultado alcançado era o resultado desejado pelo legislador. Vamos então proibir que no futuro próximo volte a surgir uma peça de roupa por onde se enfia a cabeça num buraco grande, os braços nos buracos laterias pequenos (t-shirt, top) e que tenha um padrão de pinceladas de tamanho médio espalhadas pela peça? Não me parece sensato.

Concluindo, enquanto esse regime legal inovador não for desenvolvido os designers vão ter que continuar a recorrer ao antigo e a perder nos tribunais, como tem acontecido na maioria dos casos. Acho que o que faz falta é uma mudança de mentalidades. O que importa a uma Fashion House se uma srª de classe média em ascenção lol da zona de Lisboa com 24 anos se interessa e compra umas quantas peças da colecção da Zara que lhe lembram a colecção da Céline com que ela vibrou. Garanto-vos que não vou juntar os meus euros até atingir a módica quantia de 3.000€ para depois apanhar um voo para Paris e adquirir as peças na Céline, até porque provavelmente demorava tanto tempo que saiam mais 5 colecções de verão em que ficava interessada.

Deixo-vos um apelo Ó Grandes Marcas: deixem-nos sonhar! Deixem-me sonhar porque quando compro aquela peça tão parecida com a vossa sinto-me mais perto de vocês, quase que nos tornamos amigos e vos trato por "tu". Não posso dizer que esta mala é da Céline ou da Phillip Lim porque não é mas posso dizer que é da Zara mas comprei-a porque me fez lembrar aquela mala da qual tenho um foto no iPhone, como quem traz as fotos dos filhos na carteira. Já dizia o outro que a imitação é a melhor forma de homenagem.

Now get over yourself....

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